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Gigantes do minério de ferro impedem crescimento de pequenas mineradoras

O domínio das principais mineradoras de minério de ferro no mundo, como Vale, BHP Billiton e Rio Tinto, impedem que pequenas mineradoras consigam investimento e financiamento para desenvolverem novas minas e projetos. A diferença no custo de produção é o principal obstáculo para essas empresas iniciantes.

Gigantes do minério de ferro impedem crescimento de pequenas mineradoras

Empresas inciantes no mercado de minério de ferro não conseguem financiamento ou investimento para o desenvolvimento de novas minas ou projetos. O domínio das gigantes Vale, BHP Billiton e Rio Tinto, especialmente em portos e linhas ferroviárias, e o baixo custo de produção comparado às iniciantes não permitem o crescimento dessas novas mineradoras.

Da África à Austrália, as oportunidades para desenvolver pequenas minas de minério de ferro estão desaparecendo rapidamente, à medida que o dinheiro diminui e mineradoras se tornam incapazes de competir com o esmagador baixo custo de produção das maiores mineradoras do setor.

Somente na Austrália, meia dúzia ou mais projetos, iniciados por garimpeiros em tempos melhores, estão estagnados, sem previsão de um cronograma para o desenvolvimento.

A maioria está com pouco dinheiro e enxugou suas folhas de pagamento e custos com equipamento para o mínimo possível, esperando uma virada de jogo que, segundo especialistas, deve demorar muito para acontecer.

Empresas como a Aquila Resources, Flinders Mines e Iron Road, que há anos estavam liderando uma onda de novos investimentos em minério de ferro, tiveram suas ações desvalorizadas à medida que investidores diminuíram suas expectativas.

“Não é momento para desenvolver novas minas de minério de ferro. As grandes mineradoras estão se esforçando ao máximo para garantir isso”, disse Keith Goode, analista da Eagle Mining Research.

Mineradoras maiores como a Vale, BHP Billiton e Rio Tinto estão aumentando o domínio da oferta no mercado do minério de ferro, que é o segundo maior minério transportado por navio, depois do petróleo.

Essas três empresas controlam 70% do comércio marítimo de ferro e estão gastando bilhões de dólares em novas minas para capturar uma porção ainda maior, assim como a perspectiva de preço para o mercado de matérias-primas para a siderurgia diminui e excesso de oferta se aproxima.

Segundo pesquisa da Reuters, o preço do minério de ferro deve cair pelo quarto ano em 2013. Em alguns anos, o preço pode chegar a menos de US$ 100 por tonelada, de acordo com analistas do mercado.

As grandes mineradoras preocupam o mercado, pois têm custo de US$ 30 a US$ 50 por tonelada. Para novatos a estimativa do custo é de US$ 100.

Além disso, as novas empresas estão lutando contra as despesas com linhas ferroviárias que podem se estender centenas de quilômetros através de desertos ou florestas, alocações de portos limitadas e minério de ferro de baixo teor.

O Fortescue Metals Group, terceira maior mineradora de minério de ferro da Austrália, disse à Brockman Mining que poderia cobrar cerca de US$ 575 milhões por ano, para que a empresa pudesse ter acesso a parte de sua linha ferroviária australiana.

A iniciante Aquila Resources não teve outra alternativa a não ser paralisar seu projeto de minério de ferro West Pilbara, na Austrália. Seriam necessários bilhões de dólares em linhas ferroviárias e portos para manter o projeto ativo.

A japonesa Mitsubishi optou por suspender as atividades em porto e linha ferroviária na Austrália, país que prometeu estabelecer um novo centro de exportação para o minério de ferro. Tal hub seria a 1.200 quilômetros das linhas ferroviárias controladas pela BHP, Rio Tinto e Fortescue, diminuindo ainda mais as esperanças dos iniciantes.

No oeste da África, o valor de mercado ficou tão baixo para uma série de mineradoras de minério de ferro que o mercado não acredita que muitos projetos sairão do papel, segundo Hunter Hillcoat, analista da Investec.

“A perspectiva de que o mercado não está atribuindo valor a essas empresas por acreditar que seus projetos não serão desenvolvidos foi reforçada nos últimos meses”, disse.

A Zanaga, parceira da Glencore Xstrata em um projeto no Congo, tem um valor de mercado de US$ 47 milhões, comparado com os cerca de US$ 38 milhões em reservas de caixa. O estoque da empresa perdeu cerca de 60% neste ano.

A mineradora Bellzone, cujas atividades têm foco em Guiné, perdeu cerca de 70% do seu valor de mercado. A empresa foi obrigada a vender seu navio graneleiro depois de uma previsão de corte na sua produção de minério de ferro, na mina Forecariah.

Outra desenvolvedora de minério de ferro na África, a australiana Sundance Resources foi incapaz de atrair parceiros para investir em sua mina de Mbalam-Nabeba, que fica entre Camarões e Congo.

As ações da Sundance caíram 75%. A queda ocorreu em função de um financiamento previsto de US$ 4 bilhões que o grupo chinês Hanlong Group não conseguiu realizar.

Uma das poucas exceções foi a IMIC, que recentemente fechou um negócio pela Aferro, que detém 100% do depósito de minério de ferro Nkout, em Camarões. O acordo ocorreu porque a IMIC vendeu uma parceria com a China para construir ligações de transporte para que a matéria-prima pudesse ser exportada.

O comércio volátil do minério de ferro viu os preços chegarem entre US$ 110 a US$ 160 por tonelada neste ano, aderindo uma larga escala de produtos atingidos por excesso de oferta e diminuição da demanda da China.

O excesso de oferta do minério de ferro transoceânico deve ser de 155 milhões de toneladas no ano que vem, segundo analistas do UBS. Quase toda a oferta vem de grandes mineradoras.

O UBS, Goldman Sachs e outros bancos alertam que os preços podem cair a US$ 80 por tonelada comparado com o preço atual de US$ 130.

O acesso a fundos, especialmente de financiamento de capital, também secou.

“Existe um certo apetite por financiamento de dívida para a maioria desses projetos e os mercados de capitais também estão fechados, o que não deixa muita escolha”, disse Paul Adams, analista da DJ Carmichael, especializado em pequenas mineradoras.

Até mesmo projeto em desenvolvimento Roy Hill, de Gina Rinehart, a pessoa mais rica da Austrália, que tem expectativa de produzir 55 milhões de toneladas por ano, está demorando mais do que o esperado para conseguir financiamentos.

Depois de anos em fase de pré-desenvolvimento, somente agora o projeto Roy Hill superou os obstáculos principais, segurando as negociações da dívida, de acordo com fontes da Reuters que são familiarizadas com as negociações.

Entretanto, se o projeto começar a produzir em 2015, vai se tornar o quarto maior em produção de minério de ferro, tornando as vidas dos pequenos rivais ainda mais complicadas.

O mercado de minério de ferro na Austrália foi divido entre Rio Tinto, BHB e Fortescue, adicionando 100 milhões de toneladas de produção para o próximo ano. Quantidade equivalente a um quinto das importações da China.

A Vale, maior produtora do mundo, investe US$ 19 bilhões para expandir sua presença em quase um terço no Brasil.

A estratégia se baseia na melhoria da economia de escala para reduzir o custo de produção de cada tonelada de minério para os níveis de empresas menores que acham impossível de igualar.

Isso deixa pouco espaço para novatas em outras partes do mundo.

"As ações da Rio Tinto e a BHP são amortecidas por todas as etapas do ciclo, de alta e baixa. A não ser que você seja à prova de ciclo, vai ser um caminho muito difícil.”, disse Adams Carmichael.

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