Antes considerados lixo, o lodo de esgoto e a lama vermelha acabam de ganhar uma função que pode beneficiar a construção civil. A mistura desses resíduos à argila poderá contribuir para a redução do consumo da mesma. A técnica consiste em transformar resíduos de indústrias e estações de tratamento em cerâmica e foi realizada pelo especialista Cristian Diaz durante mestrado na Escola Politécnica da USP.
O lodo utilizado no experimento foi retirado da Estação de Tratamento de Esgoto de Franca, em São Paulo, e a lama vermelha é originária de uma planta industrial localizada no Pará. Esse segundo material resulta de um processo denominado Bayer, que serve para produzir a alumina, componente da bauxita, principal minério do alumínio.
A expectativa é que a redução no consumo de argila reflita na produção de tijolos, telhas e blocos, diminuindo consideravelmente seus custos. A boa notícia é que o valor mais baixo não interferirá na qualidade dos produtos, mantendo a forma tradicional de fabricação da cerâmica.
Díaz explica que a ideia de desenvolver o estudo surgiu da vontade de acabar com o acúmulo de resíduos. “Há necessidade de reciclar os rejeitos, porque sua produção vem aumentando consideravelmente, e os métodos de disposição tradicionais estão sendo esgotados”, disse o engenheiro à agência de notícias da USP.
“Outros trabalhos têm sido feitos com a ideia de usá-los como matéria-prima. Alguns deles são testes em nível industrial”, afirma Diaz.
As argilas comuns são utilizadas na fabricação de cerâmica vermelha ou estrutural, de revestimento cerâmico ou industrial e de cimento. Segundo estimativas da Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação (SGM), em 2010, a produção de cerâmica vermelha foi de 84,8 bilhões de peças cerâmicas (blocos, tijolos e telhas) e consumiu cerca de 170 Mt de argila. Em volume, fica atrás somente de agregados e minério de ferro.