BRITADOR

Unicórnio Congolês

A República Democrática do Congo (RDC) será a casa da segunda maior mina de cobre do mundo, uma jornada que começou neste mês quando a mineradora canadense Ivanhoe Mines iniciou a produção de concentrado de cobre em seu projeto Kamoa-Kakula alguns meses antes do planejado.

 Mina de cobre Kakula, no Congo. No círculo vermelho, a rampa de acesso da mina

Mina de cobre Kakula, no Congo. No círculo vermelho, a rampa de acesso da mina

Kakula, a primeira mina subterrânea planejada na concessão, tem a previsão de lavrar 3,8 milhões de toneladas de minério por ano com um teor de alimentação médio "bem acima de 6% de cobre", diz a dona do projeto, durante os primeiros cinco anos de operação. O que, convenhamos, é um teor excepcional.

Segundo uma apresentação feita para banqueiros, a produção deste ano, que pode chegar a 95 mil toneladas de cobre contido em concentrado, já está financiada. No fim de abril, 3 Mt com teor de 4,74% estavam empilhadas e prontas para serem processadas.

Mas a meta é bem mais ambiciosa: chegar a 19 Mt de minério produzido por ano. Só de reservas já são 10,5 Mt de cobre. As operações em Kamoa-Kakula após várias fases de expansão planejada vão chegar ao pico de produção anual de cobre de mais de 800.000 toneladas e, possivelmente, deixar a mina de Glasberg em terceiro lugar.

A planta foi projetada para produzir concentrados com cerca de 57% de cobre. Todo esse potencial vai levar a RDC para o terceiro lugar na produção mundial do metal, atrás do Chile e do Peru.

Assim, a Ivanhoe e sua sócia chinesa Zijin Mining, uma das dez maiores mineradoras de ouro do mundo, começam a aproveitar o maior preço já alcançado pelo cobre em todos os tempos. Na sexta-feira (28), na Bolsa de Metais de Londres (LME), o metal vermelho com entrega em três meses foi negociado a US$ 10.171 a tonelada.

O presidente da RDC, Felix Tshisekedi, disse que o empreendimento é um sinal de que o país está aberto para negócios e investimentos. No mesmo dia, o executivo Robert Friedland, descreveu a primeira produção de Kamoa-Kakula como um "momento histórico" para a Ivanhoe e a RDC. Friedland, que tem 13,5% da Ivanhoe, divide a presidência do conselho (onde o ex-presidente da CBMM, Tadeu Carneiro, ocupa um assento) com Yufeng Sun, indicado pela Citic Metals.

Papel aceita tudo. O fato é que a RDC é um país complicado para mineração. De acordo com o ranking anual do Fraser Institute é nada menos do que uma das dez piores jurisdições do mundo, entre as 77 avaliadas, para se investir em mineração. Segundo um dos respondentes da pesquisa, presidente de uma junior company, "a falta de transparência na renegociação de acordos de mineração prejudica a competitividade de mineração da RDC".

Contudo, a Ivanhoe e seus sócios chineses (a Zijin tem 39,6% desse empreendimento na RDC, mas controla 13,7% da Ivanhoe, enquanto a Citic Metal detém 26% da mineradora) parecem confortáveis e têm mais dois projetos de cobre em uma região da RDC que fica no sul encravada na Zâmbia.

"Descobrir e entregar uma província de cobre desta escala, teor e excelência em ESG, antes do previsto e dentro do orçamento, é um unicórnio no negócio de mineração de cobre", disse Friedland em um comunicado na semana que passou. O executivo fez fortuna em 1996 ao vender o projeto de níquel Voysey's Bay para a Inco, hoje da Vale.

Caso não se lembrem, em 2019, as ações da Ivanhoe disparam 20% ao serem divulgados os números de um furo de sondagem excepcional que interceptou 23 metros com 40% de cobre, a partir de 190 metros da superfície. Eu não esqueci a vírgula, foram quarenta por cento em 23 metros.

Olhando para o futuro, a consultoria CRU afirma que a indústria do cobre precisa gastar, por baixo, US$ 100 bilhões para cobrir um suposto déficit anual de 4,7 milhões de toneladas métricas até 2030. A trader Trafigura diz que esse déficit potencial, em função da eletrificação de carros e da economia, pode chegar a 10 milhões de toneladas se nenhuma mina for construída nesse prazo. Vendo dessa forma, Kakula é apenas mais um passo.

Ivanhoé, personagem de livro com o mesmo nome publicado em 1819 pelo escocês Walter Scott, viveu um típico romance de cavalaria, pautado pela honra, lealdade e pureza de intenções. No final do livro, sem (praticamente) precisar matar ninguém, ele se casa e vive feliz para sempre. Considerando que se trata de um projeto de longa duração, pelo menos 26 anos de LOM, vamos torcer para um final feliz.