Herbert C. Hoover

Em sentido estrito, somente nove presidentes eleitos não foram reeleitos nos Estados Unidos. O mais recente é Donald J. Trump, que foi um verdadeiro padrinho das mineradoras americanas. O sexto deles foi o engenheiro de minas Herbert C. Hoover, que enfrentou não uma pandemia, mas o crash financeiro de 1929, e não favoreceu mineradora alguma.
Herbert C. Hoover Herbert C. Hoover Herbert C. Hoover Herbert C. Hoover Herbert C. Hoover

Donald Trump (esq.) e Herbert Hoover (dir.)

Para ser preciso, foram onze os presidentes dos EUA que perderam a eleição para o segundo mandato. Contudo, um deles foi morto no primeiro mandato (John F. Kennedy) e outro não tinha sido eleito presidente (Gerald Ford) pois era o vice, logo, os retirei da lista.

Hoover foi eleito presidente dos Estados Unidos em 1928 e teve de ajudar a reconstruir o país após a quebra do mercado de ações em 1929. Como presidente, ele acompanhou de perto a votação do congresso para revogar a proibição da venda de bebidas alcoólicas, a famosa Lei Seca, mas falhou.

Pode parecer uma bobagem, mas isso contou para o fracasso na reeleição. A Lei Seca que começou a vigor em 1920 era uma emenda na constituição norte-americana que proibia a produção, transporte e venda de bebidas alcoolicas, mas não o consumo.

Sua presidência foi ofuscada pela crise econômica de 1929, e ele passou a maior parte de seu mandato tentando melhorar a economia do país. Os Estados Unidos não se recuperaram até a época das eleições de 1932 e ele perdeu para Franklin D. Roosevelt que, no primeiro ano do mandato, conseguiu tirar a proibição contra as bebidas da Constituição.

Ainda hoje há várias restrições, como horário de venda, local de consumo e até condados que proíbem a venda de qualquer tipo de bebida, sendo que em alguns é possível vender somente vinho e cerveja.

Alguns historiadores dizem que Hoover era pessoalmente contra a venda de álcool, mas por motivos econômicos, tentou acabar com a restrição. Um volume gigante de impostos era perdido todo ano, enquanto os bares clandestinos se multiplicavam sob a administração do crime organizado.

Antes de servir como 31º presidente da América de 1929 a 1933, Hoover teve sucesso internacional como engenheiro de minas e gratidão mundial como "O Grande Humanitário" que alimentou a Europa devastada pela guerra durante e após a Primeira Guerra Mundial, diz o perfil no site da Casa Branca.

Ele entrou para o curso de engenharia de minas assim que a Universidade de Stanford abriu em 1891. Se formou, se casou e se mandou para a China onde trabalhou como engenheiro chefe em uma mina de carvão e uma planta de cimento.

Foram quatro anos do outro lado do mundo e, bem no início, enfrentou a Revolta dos Boxers, que queria expulsar estrangeiros e cristãos da China. Hoover montou barricadas no acampamento em que morava. O local foi alvo de 60 mil disparos ao longo de um mês de ataques.

Era um período complicado para a China que, depois de perder a guerra contra o Japão, foi aliviada de vários territórios, incluindo a Coreia. Como disse Hoover, centenas de firmas do mundo todo estavam lá, um país sem lei (mineral), para extrair qualquer coisa que pudesse ser negociada nos bolsas de commodities da Europa.

Ele chegou a liderar uma comitiva com 200 cavalos para investigar como aumentar a produção de uma mina de ouro. Inicialmente iam somente quatro pessoas, mas o diretor chinês da mineradora disse que o pequeno grupo não estava à altura da posição deles.

Hoover acertou ao dizer que a democracia nunca prosperaria na China, mas errou ao falar que os chineses eram péssimos administradores. Como Hoover morreu em 1964, presenciou o Grande Salto para a Frente, mas não viu a Revolução Cultural, que voltou a fechar o país. Muito menos a ascensão da China nos anos 1990. Imagino que nunca lhe passou pela cabeça que em 2028 a China pudesse se tornar a maior economia do planeta, superando os EUA, conforme previsão do CEBR.

Após três anos na China, Hoover se mudou para Londres onde se associou a investidores de mineração que controlavam 20 minas em vários países. Ele ficou a cargo do trabalho de campo e segundo o livro de memórias intitulado "Anos de Aventura 1874-1920", deu cinco voltas no mundo. E olha que ainda não existiam companhia aéreas. Em um único ano, ele foi aos EUA, Havaí, Inglaterra, França, Índia, China, Austrália e Nova Zelândia.

Em 1907, ele construiu uma casa em Monterey, na California, para quando voltasse a criar raízes nos EUA. Tinha também uma casa em Londres, enquanto na Austrália, Nova Zelândia e Birmânia (atual Mianmar), ficava em casas da companhia.

As minas na Oceania eram todas de ouro, e como disse Hoover, a Austrália vivia, em 1902, a ressaca de uma corrida do ouro marcada por fraudes e manipulação no mercado de ações. Era um período emocionante em que encarregados escondiam os veios descobertos e alguns deixavam que minas fossem alagadas de propósito, ou seja, mudou pouco de lá para cá.

Ele contou, em seus relatos, que apesar de haver muito ouro nas camadas superficiais, o teor diminuía com o aprofundamento das minas. Em uma das viagens em Kalgoorlie, em Western Australia, ele parou para conversar com um garimpeiro que estava na beira de um poço de 1,50 m por 0,60 m, com 21 metros de profundidade. No fundo, estava outro camarada que colocava pedras no balde que era içado por cordas e roldanas. Durante a conversa, o garimpeiro deixou o balde com rochas cair. Ao fazer isso gritou: "matei meu chapa! Matei meu chapa!".

Hoover narra que se debruçou sobre o poço e gritou. "Você está bem, meu chapa?". A resposta foi imediata: "Seu filho da ****! Por não joga logo as roldanas junto?".

Em 1908, quando o futuro presidente dos EUA deixou a parceria com os investidores, as minas australianas movimentavam 1 milhão de toneladas por ano, empregavam mais de 4 mil pessoas e tinham receita de US$ 18 milhões, o que daria meio bilhão a valores atuais. Ele tinha 30% do empreendimento.

Até o início da 1ª Grande Guerra, em 1914, Hoover participou de empreendimentos ainda maiores em mineração na Polônia, Rússia, Coreia, Canadá e outros países. Para isso ele criou uma peculiar firma de engenharia e abriu escritórios em vários países.

"Trabalhamos com a teoria de que havia no mundo muitos projetos de engenharia sólidos que, por incompetência ou métodos obsoletos, geravam pouco ou nenhum lucro. Se pudéssemos controlá-los, atualizar suas operações e gerenciá-los com eficiência, merecíamos uma porcentagem justa dos lucros adicionais", diz ele em suas memórias.

Simplesmente, ele tinha criado um misto de consultoria com recuperador de empreendimentos e a remuneração era somente o success fee. E ficou ainda mais rico. Estima-se que, em 1914, ele tinha uma fortuna de US$ 104 milhões, a valores de hoje. Note-se que, naquela época, os riscos eram muito maiores e não havia bilionários. Na lista dos presidentes americanos mais ricos (ao deixar o cargo), ele fica somente em 8º lugar. A lista é liderada, com folga, por Trump, republicano como Hoover.

E foi na guerra que sua carreira deu uma guinada. Ele organizou, de Londres, a retirada de 120 mil americanos da Europa em seis semanas, a pedido do consulado americano. Em seguida, montou uma cadeia de suprimentos para garantir que os belgas, sitiados pelos alemães, não morressem de fome. Depois desse feito, o presidente dos EUA, Woodrow Wilson, o nomeou chefe da Food Administration, ou seja, um ministro.

Em 1921, no comando do American Relief Administration, um órgão criado para ajudar na reconstrução da Europa, ele foi criticado por enviar auxílio humanitário para a recém-nascida Rússia Soviética. A resposta foi curta e histórica. "Vinte milhões de pessoas estão morrendo de fome. Qualquer que seja sua política, elas serão alimentadas!"

Em seguida, assumiu a Secretaria de Comércio, sendo p mais longevo no cargo. Lá ficou por mais de sete anos até ser eleito para a Presidência, sem experiência política prévia (assim como Trump). Durante a eleição, e poucos meses antes da Grande Depressão, soltou mais uma frase emblemática (e equivocada): "Nós, na América hoje, estamos mais perto do triunfo final sobre a pobreza do que nunca na história de qualquer país".

Num famoso discurso feito na campanha para reeleição, em 1932, ele criticou os irresponsáveis democratas por proporem um "novo negócio", o tal de New Deal, o mesmo que tirou os EUA (e o mundo) do buraco em que se meteu depois de 1929. O argumento de Hoover é que não se deveria romper com os fundamentos que nos últimos 30 anos tinham levado os EUA a se tornarem uma das maiores potências globais.

Mais uma vez, estava enganado. Minha conclusão é que engenheiros de minas podem ser grandes administradores, empreendedores bem-sucedidos e capazes de grandes feitos, mas são inaptos para fazer previsões.

Não há registro de que Hoover tenha favorecido, de alguma forma, a mineração nos Estados Unidos. Contudo, Trump, que assim como ele, é republicano, rico, não tinha experiência política prévia e não foi reeleito, conseguiu fazer várias coisas como flexibilizar regulamentos e liberar empreendimentos, como o da Lithium Americas e o Resolution Copper. Ontem (8), a Reuters disse que ambos obtiveram aprovações importantes, a 12 dias do fim do mandato, que o presidente eleito, Joe Biden, não pode desfazer.

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