BRITADOR

Minera MMX, um negócio pra lá de suspeito

O Britador lembra da relação histórica que Eike Batista tem com a cidade chilena de Copiapó e fala desse negócio esquisito que não rendeu um centavo para a MMX, apesar de ter lhe custado mais de R$ 200 milhões.

A MMX anunciou, na sexta-feira passada, que concluiu a negociação de venda da Minera MMX de Chile, um projeto de minério de ferro no norte do país a 102 quilômetros de Copiapó, para o grupo Sociedad de Inversiones Cooper Mining. Desde que li sobre esse projeto, em março, senti que algo não cheirava bem.

A MMX disse que fez uma baixa contábil de R$ 224 milhões, porque descobriu que o negócio era pouco atraente. O valor é simplesmente alto demais para um projeto de minério de ferro chegar na fase de viabilidade. Eu até acreditaria se eles tivessem falado em R$ 50, mas R$ 224?

Somente para comparar, a declaração de impacto ambiental de parte do projeto, em 2009, para a campanha de sondagem de com 315 furos, para retirar 47,7 mil metros lineares de testemunhos em 600 hectares foi orçada em US$ 12,5 milhões. A área total das cinco propriedades da Minera MMX somava 1.700 hectares.

Se isso já foi duro de engolir, imagina vender esse projeto, que custou R$ 224 milhões, para uma empresa financeira que não tem direito minerário algum (pelo menos não em seu nome), segundo o cadastro mineiro do Chile.

Vou ser muito franco. Na primeiro vez, que li sobre essa empresa, pensei que tinham errado o nome Cooper. Tratando-se de Chile, pensei que era erro de grafia, devia ser Copper, cobre em inglês. Mas o fato relevante da MMX não deixava dúvida. Era Inversiones Cooper Mining, mesmo.

Como todo bom e modesto jornalista, sou curioso. Busquei a tal empresa no Google. Nove. Nove links ou hits citam essa emprega que arrematou, por dinheiro algum, um projeto que custou R$ 224 milhões.

A maior parte desses sites que trazem a tal Sociedad são listas com endereços comerciais. São todos uns cópias dos outros. Em um deles, consta um endereço de e-mail, um mero endereço gmail já repassado para a equipe do NMB que está apurando essa história melhor.

Vou verificar o endereço da empresa, que fica em Copiapó. Não encontro o número depois de pesquisar minuciosamente cada casa, prédio (poucos) e terrenos baldios (muitos) usando o street view do Google Maps. Perto do suposto número 360 da Avenida Batallones Atacama (foto) há um pronto socorro, uma revenda de carros (Callegari) e uma filial da SKF.

A consulta ao RUT, o CNPJ chileno, mostra que a empresa está habilitada somente para transações de compra e venda de participações mobiliária, como ações. Nada de mineração.

Essa empresa, aberta em 2009, mas que somente passou a “existir” depois que comprou a MMX Chile, é desconhecida até da imprensa local. A notícia da compra da empresa tem uma única fonte, o jornal Valor Econônimo e seus websites.

A MMX chilena que chegou a ter acordos com a Codelco, maior mineradora do Chile, para sondar áreas de propriedade da estatal. Como vimos, não deu em nada. Mas a EBX, tem outros investimentos muito maiores na região. Além de um porto para exportação do minério de ferro, que desistiu de produzir, tem uma termoelétrica bilionária. O que ainda vai dar dor de cabeça para o Eike.

Em agosto, vereadores da cidade de Copiapó denunciaram o prefeito Maglio Cicardini à Procuradoria de Atacama, por supostamente ter recebido suborno de Eike Batista para ajudar na liberação da construção da termelétrica Central Castilla.

Os vereadores dizem que o prefeito embolsou US$ 34 mil e a MPX, braço energético da EBX, disse que isso foi pagamento por serviços publicitários. Mas a relação de Eike com Copiapó, não termina por aqui, afinal, é muito mais antiga.

É em Copiapó que fica a mina de ouro e prata La Coipa. Essa mina, hoje de propriedade e operação da Kinross, pertenceu a Eike e dois sócios. La Coipa, mais dois projetos de ouro, um na Colômbia e outro no Brasil, formaram o cacife usado por Eike para entrar, em 1986, aos 29 anos, como presidente e CEO de uma júnior canadense quase quebrada chamada TVX Gold. Clique aqui para saber o que aconteceu com essa empresa.

Enfim, tenho minhas suspeitas, baseadas nessas poucas evidências, de esse negócio é muito esquisito. A Cooper Mining, que fica supostamente a 800 metros do endereço da Minera MMX em Copiapó, pode ter uma proximidade muito maior com o grupo EBX do que se imagina. Ou será que algum de meus poucos leitores trocaria supostos investimentos de R$ 224 milhões por supostos royalties futuros repassando o ativo para desconhecida empresa de investimentos?

Casi me he olvidado! Felicitaciones, Eike, por más uno compleaño.