OPINIÃO: Areia baiana que vale ouro

Rafael Avena Neto, geólogo e diretor técnico da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), escreveu um artigo em que fala sobre a riqueza mineral da Bahia. De acordo com ele, o Estado é o maior produtor nacional de minérios como urânio, magnesita, além de possuir uma reserva de areia silicosa de alta pureza.
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A Bahia, sem sombra de dúvida, é um estado privilegiado em termos de recursos minerais, pois desde o tempo colonial, quando produzia ouro e diamantes, já era destaque na produção mineral brasileira. Atualmente somos o maior produtor brasileiro de urânio, barita, cromo, magnesita, sal-gema, bem como nos destacamos em cobre, bentonita, níquel, ouro e vanádio, entre tantos outros.

Na boa terra, até areia vale ouro. É o caso do depósito de areia silicosa de alta pureza em Santa Maria Eterna, na região de Belmonte, matéria prima fundamental, entre outros, para a viabilização do Programa Energia Solar.

Trata-se de uma areia de especificações únicas no mundo, excelente para a fabricação de vidros planos, transparentes e especiais, fibra ótica, podendo gerar, ainda, como subproduto, areia fina aplicável na indústria cerâmica (cerâmica branca e esmaltada), na produção de silicato de sódio e na produção de tetracloreto de silício e seus derivados. Ocorre na forma de um depósito superficial inconsolidado e espesso, que ocupa uma área da ordem de doze quilômetros quadrados, proveniente da concentração secundária da sílica acumulada em consequência da dissolução e lixiviação do conteúdo carbonático de calcários dolomíticos silicificados, existente na região.

Constituem uma reserva total de quase cem milhões de toneladas, com teor médio de 99,74% de SiO2, excelente para a produção dos principais componentes para a geração da energia solar, considerada, para um futuro próximo, a principal fonte limpa de energia do mundo, pois utiliza a natureza como principal ingrediente, ou seja o sol.

No Brasil a energia solar representa apenas 0,02% da produção energética, com estimativas de atingir 4% até 2024, segundo dados do Ministério de Minas e Energia. Atualmente, apenas 1% da energia gerada no mundo provém das fontes de energias solares, sendo que a Alemanha é o maior destaque, pois essa fonte de energia passou a ser programa de governo. Itália, Espanha, Japão e os Estados Unidos também vêm desenvolvendo fortes programas nessa área.

É nesse sentido, que a Bahia, após o grande sucesso do Programa Energia Eólica, desenvolvido pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE), passou a dar forte ênfase também ao Programa Energia Solar. O Governo da Bahia vem atraindo diversos empreendimentos nesse segmento, já estando previstos alguns importantes projetos, como o que será instalado na cidade de Tabocas do Brejo Velho, onde será montada a maior usina de energia solar da América Latina, denominada Complexo Ituverava, ou Projeto Ituverava. Terá capacidade de 254 MW e produção anual de energia estimada em 500 GWh, o suficiente para atender a demanda de consumo de energia anual de mais de 260 mil domicílios brasileiros, evitando assim a emissão de mais de 180 mil toneladas de CO2 por ano, com a utilização de mais de 20 mil placas fotovoltaicas.

O projeto, que começou a ser implantado em dezembro de 2015, prevê entrar em produção a partir de 2017, sob a supervisão da Enel Green Power (EGPB), empresa responsável por conduzir a construção da planta, tendo sido escolhida à empresa Enerray do Brasil, que pertence à Seci Energia, do Grupo Industrial Maccaferri, através da Enerray Usinas Fotovoltaicas, para executar o projeto que, segundo a EGPB, exigirá um investimento de cerca 400 milhões de dólares.

A usina de Ituverava, maior projeto solar da Enel em construção atualmente, foi um dos vencedores do leilão de energia de reserva realizado pelo governo federal em novembro de 2014, no qual a companhia vendeu 344 megawatts (MW) em empreendimentos, incluindo usinas eólicas.

Está será uma das maiores usinas de energia solar dessa companhia italiana de energia renovável e ajudará a suprir à demanda constante de energia elétrica no país – que de acordo com estimativas vai aumentar sua demanda a uma taxa média de 4% ao ano.

Para quem não sabe, um sistema fotovoltaico produz energia elétrica a partir da radiação solar captada por células fotovoltaicas constituídas de materiais semicondutores. O núcleo da produção industrial dessas células e dos módulos fotovoltaicos são os painéis fotovoltaicos, que é um conjunto de equipamentos construídos e integrados para, basicamente, transformar a energia solar em energia elétrica, gerando, fornecendo e armazenando, para utilização posterior, a energia acumulada.

O Silício Grau Solar (SGS) é a matéria-prima básica para a composição das células fotovoltaicas. Os cristais de silício previamente purificados (99,9999%) são transformados em lingotes, que são fatiados em pastilhas finas (maiores que 200 mícrons) formando placas (wafer), que são montadas em células usadas para a construção de módulos, que são a menor unidade dos painéis que formam o sistema.

Até aproximadamente o final da década de 90, o SGS era obtido como subproduto gerado durante a produção do silício de grau eletrônico (SiGE), caracterizado pela altíssima pureza e empregado na produção de circuitos integrados. Posteriormente utilizou-se o silício metálico (quartzo metalúrgico) ou na forma de ferrossilício, liga que responde por 94% da produção de silício, todos com um alto custo de beneficiamento.

O silício puro não é bom condutor elétrico (não possui elétrons livres). Assim, após a purificação, é necessário acrescentar "impurezas" que favoreçam o processo de obtenção de energia. Esse processo, conhecido como dopagem, pode ser feito com a adição de cristais de fósforo. A dopagem é o processo que confere ao material semicondutor o efeito fotovoltaico, que permite a obtenção de energia. Os semicondutores de Silício Grau Solar (SGS) são os mais apropriados por sua estabilidade e eficiência em converter luz solar em eletricidade, mas devido ao grau de pureza exigido 6N (99,9999%), torna o processo de fabricação de alto custo.

É ai que a nossa areia de Belmonte se encaixa perfeitamente, pois ela tem todas essas qualidades necessárias in natura, inclusive o fósforo, fazendo com que o custo da obtenção do SGS caia bastante.

Rafael Avena Neto é geólogo e diretor técnico da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM). O artigo foi publicado originalmente no website Bahia Econômica.

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